15 de mai. de 2025

o ovo que ilumina?

Postado por Fernando Assis às 16:20 0 comentários


Nélio e eu vamos nos divorciar. Ele ficará com a casa — vai comprar a minha parte. Tenho para onde ir, tenho títulos acadêmicos e um trabalho. Mas… ainda assim, sinto uma tristeza no encerramento.


Já não vejo mais o Nélio de quatorze anos atrás. E é óbvio que eu também não sou mais o mesmo — ou talvez ainda seja, em partes. Mas ele se tornou alguém irreconhecível, e a minha mente insiste em me mostrar as promessas, as conversas, as tentativas. Eu juro: eu tentei. Sei que ele errou, eu também errei. Erramos — e também acertamos.


É estranho pensar que, quando um vizinho italiano faleceu e deixou sua companheira mergulhada numa escuridão total, com apenas uma luz no jardim refletindo sua silhueta sentada, pensativa… eu chorei. Chorei muito. Porque, de alguma forma, projetei naquela cena a ideia da morte e da solidão que senti diante da ausência do Nélio. O medo de perder aquilo que eu achava que tinha se traduziu em lágrimas.


Para mim, “divórcio” sempre foi uma palavra proibida. Nunca me casei pensando no fim. Talvez eu tenha romantizado, idealizado demais… Mas às vezes é melhor viver num sonho do que viver triste.


Hoje, sinto como se estivesse diante de um abismo — o mesmo que sempre temi — e agora me vejo pulando, ou sendo empurrado para dentro dele. Talvez outra pessoa se apaixone por esse novo Nélio, mas eu não posso mentir para o meu coração. Já não conseguia mais… e ainda não consigo.


Talvez seja egoísmo dizer que só eu tentei. Eu falei, me expressei com atos e palavras. Ele, por outro lado, se afundava no trabalho, celular e videogame. Tornou-se uma espécie de zumbi, um cadáver do namorado que um dia eu tive — e que hoje já não tenho mais. Quem sabe ele se encaixe perfeitamente com outra pessoa, desejo o melhor, de verdade.


O universo, de certa forma, me abraçou ao me apresentar o Armando. Já estamos há seis meses juntos, e estar com alguém que me trata com gentileza, escuta, desejo e tanto amor talvez seja exatamente o que eu precise neste momento.


São sombras, medos, o abandono de algo que eu achava que sempre estaria ali — como quando abrimos a torneira de manhã esperando que a água venha. Mas ela não vem. Já secou. É hora de caminhar mais uma vez.


Meu corpo ainda pede água. E eu até poderia me contentar com os fantasmas dessa água…  Talvez essa água esteja em mim. De qualquer forma, me escutei, senti que o Fernando pede o afeto de outras formas.


Outras águas, outras fontes, fogos, lugares, outros nascimentos; vejo a luz, talvez de um ovo, talvez.

 

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