13 de jul. de 2011

Você já olhou ao seu redor hoje?

Postado por Fernando Assis às 00:18
Família: Você já olhou ao seu redor hoje?

Recentemente frente às decisões favoráveis do Judiciário, em especial do STF, em relação aos direitos aos homossexuais, pulula pela internet – e outros locais de convívio social como, por exemplo, Templos – vexatórias discussões a respeito do significado de família.



Os conservadores, de uma forma ou de outra, usam da “tradição” – tomada em suas mentes como aquilo que sempre foi e sempre será – para sustentar sua presunção: A família forma-se pela união do homem e a mulher. A tradição cristã adiciona a esta primeira parte o predicado: e sua prole ou visando à geração de descendentes.



Seria muito simples questionarmos essa afirmação: Em primeiro lugar o modelo de unidade familiar básica “homem-mulher-descendente”, a chamada família nuclear, é uma invenção burguesa recente. A unidade familiar no passado era muito maior do que esta, incluindo aí quase todo o grupo consanguíneo, inclusive aqueles ligados não pelo sangue, mas por laços “jurídicos” tal qual o contraído pelo casamento. Em relação à tradição cristã é ainda mais fácil questionarmos o argumento: Serão os casais estéreis alguma outra coisa que não uma família? E aqueles que decidam não ter filhos nunca por vontade própria? A essas questões, entretanto, dirão: você está apenas sofismando. Pois bem, procurarei então outras maneiras para abordamos o assunto.



Acredito que a maneira mais simples de questionarmos as idéias, ou ainda aprender do que compõe uma “família” seja observar para fora do próprio umbigo e conhecer o outro: o vizinho, as pessoas na rua, amigos, etc. rapidamente reconheceremos uma diversidade incrível de agrupamentos familiares dos quais darei exemplos com base da minha própria observação e vivência:



Tenho um bom amigo que desde muito cedo é criado pela avó, os dois moram juntos há anos – e sim somente os dois – e acredito que continuaram assim por um bom tempo, constituirão eles uma família? Quando era mais jovem, em meu prédio vivia um casal: Homem, mulher e três filhos: um rapaz, uma moça e um bebê. O rapaz era filho da mulher com um ex-marido, a moça filha do homem com uma ex-esposa, e o bebê filho dos dois, vivendo todos sob o mesmo teto, ainda estão dentro do modelo familiar?

Quando cursava a faculdade conheci uma jovem que morava apenas ela com a tia-avó, fico em dúvida: elas formam uma unidade familiar? E os dois primos que moram juntos em uma casa em São Paulo? Atualmente, uma tia minha viúva mora com o irmão divorciado e devem permanecer nesse arranjo por bons anos, eles são uma família, né?

Quando estagiava, lembro bem do meu chefe, este morava na casa dele em São Paulo e a mulher dele morava na casa dela em Tocantins, se viam algumas vezes por mês, pergunta: Isso é uma família? Se não for, não acho que alguém os tenha avisado.



Esses são só alguns exemplos que posso dar, conheço muitos outros e estou certo que não sou uma exceção, a verdade é que todos nós já nos deparamos com esses agrupamentos “não-convencionais”, mas que ninguém parou para pensar: A não eles não estão na base do modelo familiar nuclear. Essa bomba só explode quando dois homens ou duas mulheres, que se amam resolver chamar a si próprios de família: aí pronto, começa a enxurrada de comentários bíblicos-jurídicos.



Se, nas nossas leis, ainda hoje está escrito que a unidade familiar é o homem e a mulher, ou qualquer um dos pais e seus descendentes, é porque ao momento em que foi escrita nossa Constituição e o Código Civil nosso legislador, em seu próprio conservadorismo, pela sua tradição, optou – exatamente este o termo: OPTAR – por não compreender a família em seu termo maior e verdadeiro: não de homem e mulher e sua prole, mas duas ou mais pessoas, ligadas ou não pelo sangue, que dividem suas vidas em todos os sentidos: dos aspectos materias como o sustento do lar, ou dos lares, aos mais efêmeros como os sentimentos de amor e respeito mútuo.



A família mudou, os tempos mudaram, o mundo mudou. É estranho, e talvez clichê dizer, mas questiono por que em pleno século XXI as unidades familiares ainda são compreendias pela pequenez do século XVIII? Ou pior, por textos absolutamente desconexos e contraditórios escritos no século IV em diante?

Realmente para estas questões não tenho resposta.



Algumas coisas, entretanto, permanecem iguais: Preconceito e Ignorância, ainda fazem parte da nossa sociedade. Mas nós podemos mudar isso, colocando entre nossos legisladores homens e mulheres que façam uma opção menos segregadora e mais atenta a realidade, que eles optem pelo progresso ao invés retrocesso, pelo amor ao invés do ódio, acima de tudo que eles façam uma opção pela dignidade do ser humano.


Escrito por Nelson Bondioli

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